sábado, 2 de dezembro de 2017

HISTRIÃO DA VIDA*

Ao som de Wagner escrevo estas palavras. O peso de sua ópera compete com o do meu olhar. Que antes de peso, é pesar. 
Pela palavra incompreendida, pelo julgamento precipitado. E por quem, pela impossibilidade de amar, julga impossível ser amado. 
É pesar também por mim. Pelas palavras proferidas, pelos gestos sem retorno, pela cara lavada pelo ácido da verdade. 
Escrever ao som de Wagner exige pressa e rigidez. Não espere uma palavra que defina quem eu sou. Não espere o rosto feliz de um leitmotiv indignado. 
Apressa-me dizer o quanto sinto de pesar por minha romântica visão de querer viver Vivaldi em Quattro stagioni, quando em perene inverno, a Sinfonia Fausto me cai melhor. 
E mais do que arte, vida; o histrionismo da décadence é a pintura que melhor cai a quem não precisa de máscaras para viver sendo quem se é.

Hellen Taynan

*Contextualizando os termos:
1- Wagner: um artista em sua mais completa tradução. Uniu música e teatro sendo maestro e compositor. Ele era muito crítico quanto aos escritores da época e por isso preferia ele mesmo escrever as letras. Considero sua música demasiadamente dramática. Muito mais do que se é possível suportar por mais de 30 minutos.

2- Leitmotiv: quer dizer uma forma de conduzir que Wagner desenvolveu e que usa o mesmo tema da ópera sempre que se executa uma passagem do drama envolvendo determinado personagem.

3- Vivaldi: músico barroco do século XVII. Considero sua ópera leve, linda e feliz.

4- Quattro stagioni: "le quattro stagioni", As quatro estações, composição de Vivaldi.

5- Sinfonia Fausto: composição de Liszt, inspirada na obra de Goethe, Fausto. A obra é cheia de ocultismo, parábolas e verdades de um jovem que tinha tudo, mas queria mais. Um drama para Shakespeare nenhum botar defeito.

6- Histrionismo: modo histérico de agir. Quase caricato. Vale tudo para chamar atenção. (Inclusive tirar foto com o rímel borrado).

7- Décadence: aparece, na filosofia de Nietzsche como fato ligado primeiramente à arte e depois à própria existência. Seria o exagero, o histrionismo nos gestos e para ele, Wagner era o mais histriônico de todos os artistas. Sob o ponto de vista existencial, Nietzsche faz uma crítica sobre os que não têm domínio de si próprios, uma vez que em cada pessoa, existem diversos 'eus' e ser pessoa é meramente síntese dos nossos traços. Nesse texto, utilizei sob os dois pontos de vista. Ora para obedecer à ideia musical que ele propõe; ora para enfatizar a multiplicidade dos "eus".



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