quinta-feira, 16 de junho de 2016

DELA

Podia salvar quase todo mundo. Exceto ela mesma.

Jurou para si que jamais cairia outra vez nesse estado. Sua lucidez perfeita acerca de tudo o que acontecera, a tornava ainda mais consciente de que tudo isso fazia parte de um eterno retorno no qual para onde ela fosse sempre a tristeza atrairia ela de volta a esse lugar, por vontade ou imposição. Tentava de toda forma fazer a alegria triunfar. Podia fazer qualquer um ter fé, ainda que nela só habitasse incerteza. Faz sempre todos rirem, quando nela só há lágrimas. Faz os outros alegres, ainda que tristeza seja tudo dentro de si. Faz todo mundo ver em cores, quando ela só enxerga cinzas.
Consegue ajudar a qualquer um, menos ela mesma.
A cada queda, apenas uma certeza: é mais uma. Nem a primeira. Nem a última.
Nunca mais ela dirá que nunca mais irá se ferir. Até porque nunca funciona.
Ela sempre se fere.
No corpo ou na alma.
Sempre. 
Mas que raios de tristeza é esse que se aloja perto dela quando o sangue corre?
E esse o máximo que ela consegue chegar.
Sente-se inútil a ela mesma. 
Mas enquanto houver um que se contente com o sorriso dela e acredite que esse sorriso o dá força para viver, será sempre uma luta entre a necessidade do que sofre e a tristeza de quem sorri.
E assim, vendo-a tão eloquente e capaz de o representar, é tudo e é só o que a mantém viva e sóbria a continuar.
Sua realização pessoal ruiu, profissionalmente é incapaz, amorosamente falida. 
Mas humana (em demasia) sempre.

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