domingo, 20 de setembro de 2015

NOTA PARA QUEM?

Eu sempre fui uma criança diferente das outras e tinha uma chama pra treta que sentia de longe. O pior de tudo era minha mãe que não sabia onde tinha errado comigo. Eu era meio burra e reprovei matemática na sétima série porque comecei a gostar de um menino e ele não me dava bola. Daí um dia na balada... blá blá blá

Calma! Não vou prosseguir! Mas se... Eu seria best-seller!

A literatura que faz sucesso hoje não é composta de palavras rebuscadas, até porque poucos leitores hoje entendem o significado. Também não pode conter metáforas, perífrases, eufemismos, ironias ou anáforas. Tudo isso cansa o leitor porque exige demais dele e o que ele quer é o que está exposto, de preferência curto e claro. 

Fernando Pessoa, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Machado de Assis, Lima Barreto, Mário Quintana, Manoel Bandeira et al., não fariam sucesso nessa nova geração de leitores. As mocinhas querem "notas para ela". E assim todos se tornaram consumidores compulsivos de frases fragmentadas e quanto mais simples, melhor.

Não, eu não sou capaz de criar notinhas rasas. Eu nunca gostei de superfícies. Ademais eu valorizo deveras a nossa língua, que aliás é uma das poucas coisas decentes que resta ao país. Preocupo-me com a hibridação e os neologismos. 

Sobre as notinhas, recentemente li uma frase que seria uma ótima "nota para ela". Anota aí:

Tinha muito amor pra dar, mas também dava sem amor.


Verdade ninguém quer ler. Só o sonho, o imaginário, o ideal são bem-vindos nessa geração que pede "nudes" e "sdv".

A língua portuguesa foi prostituída e é violentada a cada novo hit do sucesso que se ouve tocar, a cada coisinha bonitinha curtinha e diretinha que é novidade na livraria. A minha eterna inquietude e meu extremo pesar ao músico talentoso que nunca vai ter a casa cheia e ao escritor competente que terá um número medíocre de vendas.

Diante desse cenário, há ainda quem sonhe com revolução!
Revolução na política, no sistema, na educação, protestos enfim! Ora, a melhor forma de se tornar líder é através do discurso. A melhor arma continua sendo a persuasão pela comunicação. Logo, se o Brasil é terra de cego e se em terra de cego quem tem um olho é rei; torna-se dispensável ter os dois olhos e convencer pela retórica bem fundamentada. Até que isso aconteça, as pessoas já estarão descendo até o chão no quadrado de quatro e recitando as malditas notinhas do sucesso.

É, eu sei... Estou fadada a morrer sem encontrar minha função nesse mundo, estou bem certa disso. Um ser atemporal com noção abstrata de espaço. Eu guardo as minhas notas, que por sua vez guardam verdades. Às vezes até venho aqui mostrar. Meus escritos estão longe da fama. Remam contra a maré, mas por mim tudo bem eu sempre fui movida por desafios mesmo...

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