terça-feira, 23 de junho de 2015

SOBRE O MEDO DE VIVER ENTRE HUMANOS

“Todas as crianças crescem. ... a gente sempre sabe depois de dois anos. Dois anos é o começo do fim”. 

Assim inicia o conto que amo, Peter Pan. O que diria James Barrie, criador da fábula se soubesse que semana passada aqui em João Pessoa, Paraíba, Brasil, uma criança de 9 meses foi vítima de um sequestro e viu sua mãe ser violentada e atropelada? Como se daria a história se Barrie soubesse que essa criança ficou amarrada uma noite toda com fome, frio e foi encontrada repleta de picadas de insetos?*

Por que o criador da vida real não idealizou para nossa existência fábulas onde a Terra é do Nunca e o País das Maravilhas e todos os vilões são bruxas e monstros que podem ser destruídos com cavalos alados, fadas e toda maldade é desfeita com beijos de amor verdadeiro?

Talvez porque Ele soubesse que o Nunca  jamais haveria, que a Maravilha seria para sempre utopia e que bruxas e monstros seriam bonzinhos demais para essa raça perdida. Cavalos alados seriam extintos por nós antes que se reproduzissem em número suficiente, as fadas seriam perseguidas e mortas por nós humanos, mas de todas, a impossibilidade maior seria encontrar o amor verdadeiro.

O ser humano, essa classe que já nasceu abortada, é a única que destrói seu semelhante. E a cada dia tenho mais vergonha de ser gente, porque eu olho para outra pessoa e sinto vergonha por desconfiar dela e olho para o espelho e sinto tristeza por saber que quando alguém me olha também não confia em mim.

Agora, o medo. Nem Pan, nem sonho. Viver de sonho nesse mundo é abdicar da sanidade, mas desconfio que só os loucos sejam felizes, porque ousam sonhar e não têm medo. O medo também é uma forma de loucura. 

Não há lugar pra mim nesse mundo! Eu ainda acredito nas coisas lindas e ainda espero que as pessoas me deem aquilo que têm de mim. Agora estou com medo e sozinha. O medo embaça minha visão, confunde meus sentidos e me deixa assim... mais humana. E me dá medo ser humana nos dias de hoje.


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