sexta-feira, 5 de junho de 2015

NO DIA EM QUE FUI FERIDA

No dia em que fui ferida, eu não olhei para quem estava em minha volta. Pra mim não interessava se a igreja pedia esmolas ou se exigia toda a riqueza. Muito menos se as garotas iam para exibir suas roupas de grife, suas etiquetas cara... Se os caras iam desfilar seus carrões, ou se o pastor ia atribuir a ele toda a glória pela cura do irmão que venceu a doença.

No dia em que fui ferida, eu não olhei para as ordens estúpidas que vinham de cima. Para as determinações de que você tinha que ir orar naquela brecha, aquela hora, naquele lugar, com aquele grupo, porque era assim e  pronto. Eu não olhei para as deturpações da Bíblia que as vozes insistiam em ressoar como verdade. 

No dia em que fui ferida, eu não estava cheia de ódio. Eu não estava cheia de inveja. Eu estava cheia do nada. Estava vazia do tudo. Repleta de mim mesma e nada mais preenchia. Porque no dia que fui ferida, entendi que toda tentativa de aproximação era uma ameaça e toda ameaça só podia contar com uma arma para lutar contra: eu mesma.

Dentro de mim, eu. 
Fora de mim, ninguém.
Quando fui ferida, me esvaziei de tudo.
E hoje permaneço ferida.
E hoje permaneço vazia.
Vazia de tudo.
Repleta de mim.

E que saudades que tenho de ser quem eu era antes de ser eu.

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