Por: Hellen Taynan
O ciúme que você acha bonitinho no começo do relacionamento
pode ser causa para sua morte mais à frente.
Há alguns dias ouvi de uma moça muito linda e jovem que se o
cônjuge dela pensasse que ela o estava traindo, ele a trairia. Ora, a condição
de vingança não é nem o ato, mas o pensamento de tal ato. A mesma moça me
relatou como se achasse bonito o fato comum dela estar em um ambiente com algum
parente e seu parceiro chegar sem avisar e passar um tempo a observando a ponto
de saber o que ela consumiu naquele tempo, se levantou em algum mom
ento e com quem falou.
Esses episódios me fizeram lembrar de um artigo que lí a
algum tempo sobre como são cometidos os crimes passionais. A agressão máxima que tira a vida do ser que
se julga amado, geralmente não vem como um impulso. As estatísticas mostram que
não é do dia para noite que alguém que se convive lado a lado vai tirar sua
vida. Antes, existe um quadro evolutivo e que proporciona essa atitude.
Aqui, não pretendo colocar a mulher como ser indefeso ou
parte frágil, mas ela acaba se enquadrando como coitada quando está inserida em
um relacionamento doente e mesmo com todos a sua volta avisando e ela mesma se
percebendo em perigo, insiste em permanecer na relação. O discurso é sempre o
mesmo e gira em torno do “eu não tenho forças”, “quem vai me sustentar?” ou, o
pior, “eu preciso dele”.
Quanto a estas questões eu te digo que você tem mais força
do que pensa, que pode se sustentar tanto quanto o seu companheiro consegue e que
você definitivamente NÃO precisa dele para nada.
Os crimes que culminam com a morte de um dos envolvidos na
relação, dão-se em estágio evolutivo. As brincadeiras de tapinhas no início do
namoro evoluem para socos e ponta pés. Mas antes mesmo que se chegue a este
nível, observe a evolução das micro agressões.
Primeiro as agressões começam verbais. São discussões que
podem começar com diálogos aparentemente inofensivos, mas a voz se eleva cada
vez mais e palavras cada vez mais baixas são proferidas. É essa a fase dos
xingamentos e dos “pingos nos ís”. O problema é que quase nunca os pingos são
colocados suficientemente e aí vem a segunda fase.
Na segunda fase, as agressões por xingamento não suprem mais
e por mais que o rumo seja à exaustão, as palavras baixas vão se tornando
insuficientes. Agora se têm as agressões psicológicas. Um agride o outro
naquilo que lhe é mais sensível. A parte que detém o domínio na discussão
manipula o outro e faz sentir sujo, culpado, diminuído... Nesta fase também
cria-se no outro a falsa ideia de dependência. Você é convencida de que sozinha
não é ninguém e que não vai conseguir e que precisa dele para estar bem, para
se sentir segura, para se sustentar financeiramente. Assim, quando o domínio
psicológico é concretizado, quando o outro é menosprezado e encontra-se nas
mãos do agressor, as palavras não bastam e então vem a terceira fase.
A terceira fase é a agressão física. Após os xingamentos e o
derrame de todas as palavras capazes de diminuir o outro ao último grau de um
ser humano, ou até arrastá-lo para mais baixo que isso, as micro agressões evoluem
à agressão física. Tapas, empurrões, ponta pés, socos e ameaças de morte.
Chantagens e exigências de que as coisas sejam do jeito que ele quer. Ele passa
a responsabilizar você de tudo. Logo, se você apanha é porque provocou e se
acontecer algo com ele e ele for denunciado ou preso, você será culpada e ele
fará você pagar por isso.
Enfim, a quarta e última fase é a consumação do crime. Todas
as fases anteriores se esgotaram e nada mais supre o descarregar do ódio a não
ser, tirar a vida do outro. Apesar dos crimes passionais serem movidos a picos
de grandes emoções, os episódios não são impulsivos. São planejados e até
avisados muito tempo antes de acontecer.
Crimes passionais, em sua maioria, são tragédias anunciadas.
Em pleno século XXI, ainda é comum ouvir mulheres se queixando de machismo,
quando na verdade elas próprias são machistas quando se sujeitam às micro
agressões e defendem seu parceiro como podem das atrocidades que ele comete.
É muito triste sentir-se impotente diante de situações como
essa. Por mais que se avise e que se mostre caminhos de fuga para a pessoa que
é vítima das micro agressões, na maioria das vezes ela encontra-se numa teia,
na qual, aquele que tenta livrá-la, em sua concepção, faz o mal e aquele
agressor que a prende, quer sempre o melhor para ela.
Publicado em: Jornal de Caruaru
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