quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A Dama do lugar comum...

Ela entendeu sua missão no mundo e essa missão tinha que ser cumprida antes dos 40 anos. 39 anos é uma idade perfeita para fugir. Primeiro porque a divisão dá 3 e o resultado dá 3, que é primo. Ainda que, a soma dos algarismos é 12, que por sua vez soma 3...
E 3 era a idade que ela amava desde que descobriu que nunca mais voltaria a ela, nem teria toda a pureza que tinha.
Seu sonho era ser boneca. Linda, sofisticada, eterna.
Se fosse boneca seria mais fácil aceitar que os outros brincassem com ela. Tal qual boneca, sempre admirada, querida, usada e depois esquecida. Mas não era boneca. Era gente. Sentia como gente. Desejava como adulta, chorava como criança.
Percebeu cedo que não era desse mundo.
Percebeu tarde que o mundo não a percebia.
Nunca aprendeu com os erros.
Nunca deixou de sonhar.
E assim sonhando, errando, sonhando, amando e errando descobriu sua missão nesse mundo.
Ela veio para tornar feliz quem passa por seu caminho.
Ela veio para fazer o bem e entender o que todo mundo sente.
Respeitou e compreendeu.
Chorou a dor do outro com o outro.
Sangrou a ferida do corte do outro.
E assim, fez sorrir.

Sempre triste, incompreendida, desrespeitada, violentada, ferida, sangrando e chorando, nunca encontrou ninguém como ela na vida real.
Parte de sua habilidade era acreditar. Porque ela era boa e sendo boa, esperava que os outros também fossem bons. E assim, acreditava em cada "eu não sou igual aos outros". Ela sabia, mas nunca entendeu que ninguém é mesmo igual pois sempre existirão piores...

Aos 35, seu rosto de boneca vai começar a evidenciar rugas... Suas mãos vão envelhecer e todos começarão a chamá-la de senhora. Nesse dia, conta-se regressivamente os anos para o seu fim.

A boneca perderá a beleza, as palavras a importância e a vida o sentido.

Assim será o fim de um ser que nasceu póstumo ou que nunca vai nascer, porque no final de tudo, ninguém lembrará de sua existência.



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