segunda-feira, 7 de julho de 2014

Acerca do homem

Se o homem tem uma essência, essa essência é firmada no egoísmo. Antes do homem ser humano, ele é animal. A carne, o sangue, o suor, o sabor, as sensações de frio e calor, dor e alegria, tristeza e felicidade de um homem não podem superar as de um outro ser vivo. A pulsão que dá a vida e os movimentos, está presente no mais simples dos seres. O homem é apenas 1 das bilhões de espécies de vida identificadas pela ciência, que desconhece até o momento dezenas de outras bilhões. 

Aristóteles, antes de Cristo, proferiu que o homem é um animal racional. Ainda hoje, há essa ideia. No entanto, tal como Nietzsche, eu me recuso a acreditar que o homem tem algum mérito a mais que um macaco e por isso também, sem entrar no arcabouço teológico da história, me posiciono de fato contra a evolução e sou a favor do criacionismo! O processo de criação da vida, sem sombra de dúvidas, foi concebido por um Designer muito inteligente, chame-o de Deus. Eu o chamo assim.

Mas o que é o homem? O homem é um ser desprezível. O homem é um equívoco. O homem é um sabotador da obra de Deus. O homem é podre. Os fluidos do homem o tornam asqueroso em sua constituição material. Os pensamentos do homem o tornam asqueroso em sua constituição humana. Tem-se no homem um ser ao mesmo tempo subjetivo, a saber, o seu grau máximo de diferenciação das outras espécies; o homem biológico e o homem material. Destarte, o homem subjetivo, não é mais do que o seu semelhante; o homem biológico, não é mais do que outras espécies vivas; o homem material, não é mais do que o adubo que prepara a terra para receber a semente.

Chega-se a máxima interpretação do homem, que o reduz ao nada que ele é. Assim, Fernando Pessoa diz que o homem é um cadáver adiado. O que de fato, resume a pequenez que outrora insiste em disfarçar-se de complexa e ilegível. O homem caminha para o fim. O homem é um ser que deteriora-se. Mais do que isso, o homem, em toda a sua racionalidade, se auto-deteriora. A vida esbarra na contradição de preservar a existência e destruí-la com intervenções do próprio cuidador.

O instinto de autopreservação do homem, permite que outro homem seja destruído em prol da vida de quem detém maior poder. Essa seleção não é natural. É uma seleção egoística, que envolve jogos, influências, força, carisma, persuasão, ameças, chantagens e todas as armas vis que o homem não precisa de licença legal para possuir.

Assim, vai o homem vivendo e seguindo o fluxo. Sendo fluido em seu comportamento e usando as máscaras cabíveis para cada cena de sua vida. O mesmo homem pode ser muitos outros e jamais revelar quem realmente é. A fonte primária permanece lá, mas foi corrompida pela sede de auto satisfação. De nada importa se a satisfação de um, causa a dor do outro. O que importa é que o homem vislumbra-se como ser independente, de necessidades individuais que o levam ao que ele estabeleceu como bom. O outro que procure o seu padrão do que é bom e siga-o.

O egoísmo extremo do homem está em preservar a vida do seu semelhante. Mesmo o amor, sentimento mais nobre, é convertido em egoísmo. O meu egoísmo é tão superior ao meu amor, que você deve permanecer ao meu lado não por que você me ama, mas porque eu o amo. Assim, não morra! Não fuja! Não me deixe. Mas e se morrer? Outro vem e substitui esse amor. Até a Bíblia prevê a dissolução do amor jurado com a morte de uma das partes. Neste sentido, fico com Nietzsche quando ele diz que sentimentos não devem ser jurados. O que se jura é o compromisso. Sentimentos são fluidos. O homem é fluido. O tempo é fluido. A vida o é.

A ridícula obsessão pelo amor, transforma-se em atos egoístas. Só Jesus amou. Abaixo dele, tudo é troca. Tudo é conveniência, interesse, comodidade e condicionalidade. O egoísmo em sua faceta exacerbada, é quando o homem sente prazer por ter feito o bem a outrem. Eu quero te ajudar, não porque vou te ajudar, mas porque vou me sentir bem ajudando.

O entendimento humano é limitado. Esse texto é limitado pelo seu entendimento e principalmente pelo meu. O engenheiro responsável por este universo, é poderoso o suficiente para dar continuidade ao que vem além do homem. Nosso entendimento não sabe como e o que ultrapassa nossa capacidade desprezível de utilização de nossa mente, deve ser investigado até o ponto em que não ultrapasse nossa sanidade. 

Ainda que não existisse moral, ética, religião ou nenhum valor, o homem saberia identificar a culpa, o medo, a dor e o incômodo. Essa consciência que cada um traz consigo, aproxima o homem de uma verdade superior a ele. Aproxima o homem de uma verdade, mas jamais o fará vê-la por completo. Somente uma criatura capaz de utilizar mais do que 7% de sua capacidade intelectual conseguiria. Talvez existam criaturas que utilizem mais do que isso, e que por este mesmo motivo, não se enquadram na mesma espécie que nós.

O romantismo, é característico do homem. Através do romantismo, o homem sonha, fantasia, idealiza um padrão de felicidade e frustra-se quando as coisas saem fora do padrão. Estariam todos os homem vivendo à luz de uma lógica cartesiana, ainda que inconsciente? Estaria o homem vivendo no rumo de uma teoria comportamentalista infindável, onde adaptar-se é tudo o que resta? A visão romântica do homem, o faz viver em um labirinto de tentativas e erro. Esse romantismo é uma película que embaça a visão para o que é real. E o que é real?

O real é o ridículo da humanidade. A humanidade é ridícula. Soberba, prepotente, manipulável, fluida, egoísta, perversa, ardilosa, podre. Ainda assim, é o que resta a você e a mim. Sejamos pois humanos. Apenas humanos e o que vier além disso é acessório.

Hellen Taynan --- 07/07/2014 --- 15:48



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