sábado, 15 de dezembro de 2012

Por que que a gente é assim?

Oi.
Estava eu hoje no 5º módulo do curso de psicanálise, estudando Ferenczi e pensando em suas ideias e relações entre a mãe e a criança desde o período de gestação à infância. E aí, também motivada por minha recente leitura "O que as lembranças da infância revelam sobre você", me peguei a pensar em minha infância.
Não me refiro àquela infância dos 5 aos 10 anos, mas àquela de quando eu tinha menos de 1 ano. Meses. É. Eu lembro. E os pensamentos-chave que me remetem à memória estão relacionados diretamente ao abandono. Não digo o abandono proposital, por maldade, mas aqueles "necessários"; ora, minha mãe precisava trabalhar, meu pai precisava viajar/trabalhar. Eles também iam à feira. E eu? Ficava com alguém da mais inteira confiança deles ou não.
Quando eu estava com 9 ou 10 meses, lembro de minha mãe ter me deixado numa sala, num colchonete, dormindo. Algum tempo depois eu acordei e entrei em desespero alí sozinha. Lembro que após chorar copiosamente, uma mulher entrou na sala e me pegou no colo, mas eu queria mesmo era minha mãe... Sinceramente, não lembro em quais condições eu retornei aos braços de minha mãe, mas o desespero que passei com a ausência dela, eu nunca esqueci.
Ainda com pouco menos de 1 ano de idade (ou um pouco mais), lembro de uma tarde sábado? em que meus pais saíram para ir à feira e me deixaram com minha tia. O desespero também imperou.
Agora lembro-me quando eu tinha 4 anos. Era noite e morávamos por trás de um campo de futebol. nesta época, meu pai gostava de tomar uma cervejinha e especialmente nesta época de minha vida, eu sentia MUITO medo. Medo de TUDO. Então, nesta noite, estava tendo jogo e eu podia sentir a casa tremer com a agitação do estádio lotado. Minha irmã, com poucos meses de vida, dormia e minha mãe teve que sair para encontrar meu pai que estava num barzinho. Como você já pode prever, caí no desespero profundo, porque eu ia ficar em casa, sozinha, à noite, quando o estádio fazia minha casa tremer. Minha mãe ainda hesitou em me deixar, mas me responsabilizou pela demora do meu pai e então eu fui convencida a deixá-la ir.
Sabe, eu acredito que o medo embaça a visão e os ouvidos e aí você acaba vendo e ouvindo o que não existe, mas você percebe.
Esses fatos são isolados. Essas lembranças, nem de longe compensam as boas lembranças de minha feliz infância que vivo até hoje. Na verdade, grande parte do meu desespero deve-se ao fato da minha ligação afetiva com meus pais ser muito intensa. Não sei viver sem eles e quando me despeço deles, é como se eu estivesse arrancando um órgão de dentro de mim.
Hoje, meu pai não aprecia mais a cervejinha (para a Glória de Deus) e, às vezes eu até gosto de ficar um pouco sozinha. Mas essa não é a tônica do post; gostaria de focar o afeto x a despedida.
Na data de hoje, após 5 módulos da psicanálise, despertei o pensamento para os simples "tchaus" que dei na vida aos meus amigos e ex-namorados. Eu não precisava amar loucamente para chorar numa simples despedida. Eu amei uma única vez e sinceramente, não esqueço o último tchau que troquei com esse ex. E sei que eu levei quase 10 anos para superar esta despedida. Durante este tempo, toda e qualquer despedida me fazia/faz chorar. Não necessariamente pelo amor desmedido, mas pura e simplesmente pelo fato de ir embora. E hoje?
Hoje eu redescobri o amor. Eu reaprendi a amar. Eu amo o meu marido e acredito que ele me ama o suficiente para nunca se despedir. aprendi, após quase 1 década, a dedicar amor e me doar inteiramente, só que dessa vez com uma diferença: ele merece o meu amor e minha dedicação.
Então é isso. Começo a acreditar, de verdade, que o que somos hoje, tem raízes profundas na nossa infância. Hoje eu amo, mas ainda tenho medo. Medo de despedidas, medo de perder... Medo. Mas acima disso, eu amo. Eu sou amor e amo mais do que temo.
Com amor essencialmente,
Hellen Taynan

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