segunda-feira, 10 de outubro de 2016

DE ALMA NUA

As pessoas só permitem que saibam o que elas querem que saibam. Elas só permitem que conheçam o sentimento que elas revelam em palavras. Animus.

Desse modo, poucos ou quase ninguém se desnuda por inteiro no sentir. Seja porque não tenha habilidade com as benditas palavras, ou porque não queira mesmo se mostrar por completo. Quase nunca é porque sentem pouco. 

E para alguém, assim como eu, que do Éden rasguei as vestes por não aceitar me esconder nem de Deus, porque é inútil, nem do amor, porque sou incompetente, falo exatamente o que sinto. E isso por veze assusta.

Tenho me podado para não dizer verdades que machuquem tanto, os ouvidos são frágeis, quase de cristais. Até os meus. 

A celebração máxima da nudez escancarada em bacanais de sentimentos acontece plenamente quando o amor que o faz estar perto daquela pessoa é maior que o desejo de arder sexualmente com ela. Eis assim a amizade! 

E diante dos poucos amigos, até porque a nudez escandaliza multidões, posso enfim, despir-me da capa superficial de equilíbrio e calmaria. Despejar o meu amor no amor que sinto pelos amigos e deles esperar cafuné e abrigo. Por vezes uns tapas para que pelo ardor e efeito eu lembre que estou viva e que é minha a responsabilidade pelo uso que faço de meu livre-arbítrio.

Sou cheia de certezas pontuais e dúvidas eternas. É certo que muitas vezes sinto-me incomodada com essa indecisão, mas não nego ser uma de minhas melhores características. Um ser em dúvidas eternas está disposto a mudar e encontrar o melhor. Por isso para mim, palavras de amigos de verdade nunca são vãs. Mesmo que no momento sejam contra minhas certezas, depois eu reflito.

Mas como eu gosto de conselhos, e como geralmente eles vêm repletos de coisas que quem diz nunca faz, eu daria um especialmente hoje: não se desnude tanto. Não importa o quão você se exponha, dificilmente vão acreditar em você. 

A tecnologia humana há tempos não produz mais ouvidos tão resistentes e corações tão puros. Despir o corpo, sem despir a alma porque os nudes de alma geram prejuízo irreparáveis à vida.

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