sábado, 13 de dezembro de 2014

Ainda me resta pão e café

Estou me esforçando para escrever porque escrever é o único ato que faz saber que tenho vida. Se eu tentar escrever e as palavras não saírem, certamente entrarei em desespero e o próximo documento a ser emitido será meu atestado de óbito.
Então, me esforço. Limo e ateio a palavra e o pensamento para exprimir e espremer até a última reticência de um sentimento irreal. De um apego solitário. De uma saudade atraída.
O que enche meus pulmões de vida vem de dentro de mim mesma, porque esperar de outra pessoa asfixia e morre.
Antes de mais nada, sou uma pessoa romântica. Preparo drinks para dois e bebo comigo mesma. Trago café na cama para mim e escrevo poemas de amor exaltando aquilo que nunca poderá me decepcionar. Mas ainda assim, sou infiel. Eu traio a mim mesma sucumbindo à tristeza e depressão.
Em crises mais ousadas, não dou provas do meu amor. Ou brinco com outro tipo de amor... O amor eterno, a morte. Assim, com muita perícia e sabendo exatamente as dosagens não letais, misturo substâncias e adormeço no meio de uma conversa, com as luzes acesas e as portas abertas.
Acordo 15 horas depois.
No celular, chamadas não atendidas de estranhos que se preocuparam comigo. Preocupam-se porque são estranhos. Os meus, nem aí...
"Mais tarde nos falamos no whatsApp".
"À tarde te ligo".

Tarde.

Vai embora sem saber se estou viva ou se morri. E se souber, vai embora do mesmo jeito. Sem apego. Sem saudade. 

O melhor de tudo... 
Morar em um lugar onde nem o Google Maps reconhece. Ninguém sabe onde estou. Desligo a internet e morri pra todo mundo. 
Viver só pra mim.

Acabou a gasolina, mas ainda tenho pão e café.

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