segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Crônica de uma partida de futebol

Viva confundindo o tédio com paz, mas satisfeita em sua vidinha medíocre. Seu time do bom, justo e agradável ganhava sempre em todos os jogos, mas nesse dia houve um desafio. O desafio era jogar a última partida de sua vida. A mais emocionante de todas! Ela não era de rejeitar desafios, ainda mais com a promessa de liberdade e o sonho das fantasias.
Começou a partida. Jogadas ensaiadas feitas sem ensaios. Shows improvisados de lances perfeitos. Intensidade, grito, desejo a cada gol. Cada bola que batia na rede arrancava sorrisos de uma certeza de que, enfim, estava curada dos anos de vazio em que acreditava ser feliz.
Ela acreditou em pequenos lances e agarrou-se com sua vida a eles, porque acreditava que eram reais. O cuidado e a proteção contra as faltas e os pênaltis mais perigosos. A orientação de conduta que fez com que ela acreditasse que estava em uma cabana segura.
Mas, uma coisa não estava prevista. O outro time jogou baixo. Usou um componente que de tão puro e inocente não podia ser odiado. Ela começou a perceber que a coragem que faltava para tomar uma atitude para finalizar a partida, estava cada vez mais distante, corrompida por um sorriso ingênuo.
Maldita seja a mente ardilosa que precisa disso para se garantir em um jogo.
Diante da incompetência técnica, usa de apelos emocionais.
A partida foi interrompida antes do fim.
O desafio ficou no caminho, quando os valores dela levantaram a bandeirinha do impedimento.
Não mais sorrisos, não mais letras, não mais números, nem ensaios...
O outro time venceu de  forma desleal.
E a alma dela, agora fora do corpo, vaga pelas partidas febris de jogos que ela não precisa mais vencer, por não ter mais vida para arriscar.

Hellen Taynan ------ 2:42

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