terça-feira, 16 de setembro de 2014

Quem ouvirá o grito que ecoa dessas letras? Quem?

É muito bom receber elogios. Enche os olhos ler depoimentos sobre o quanto as pessoas lhe admiram. Mas, quantas pessoas lhe admiram?
O pensamento é o que de mais valioso uma pessoa pode ter. Ideias que fluem naturalmente, criatividade, eloquência, boa condução ortográfica e romantismo! Tenho tudo isso, e alguns diplomas. Mas, colecionar diplomas e elogios não me permite ter recursos para manter uma vida digna.
Em termos práticos, se eu não tivesse apoio de outros, eu não teria energia elétrica para ligar o computador. Não teria nem o computador, como quebrou recentemente. Não teria casa para me abrigar do frio e calor e escrever. Não teria gasolina para ir de carro à universidade. Não teria nem carro. Não teria meus livros para ler e consultar. Não teria nem comida para me fornecer a mínima energia que preciso para permanecer pensando e escrevendo.
Eu amo o que eu faço e eu só faço porque amo e só faço o que amo, bem como só amo o que faço. Não é egoísmo, é desabafo! Em breve, ontem na verdade, eu vou precisar de algum dinheiro. Não quero ninguém me bancando não. Eu não preciso disso. Eu só preciso de um salário... Ou, não seria o trabalhador digno do seu salário?
Dias sim, dias não, eu vou sobrevivendo sem nenhum arranhão da caridade de quem me detesta. E eu nem quero que me amem, quero apenas que me valorizem. Tanto escritor sem perícia, tanta gente que mal conhece as regras de uso da crase. Não sabem sequer diferenciar um advérbio de conjunção. Conjugam verbo em pronome pessoal oblíquo tônico e fazem de mim, um sujeito... Além do que, pessoas que assinam (ou assassinam) textos com potencial de belas poesias, mas sem profundidade. Coisa rasa. Superficial. Gente que coloca os pingos nos “is”, gente que vê o copo sempre meio vazio. Gente que se contenta com uma resposta... Essa gente está escrevendo para revistas de renome. Estão com seus salários gordos ou magros. Estão comendo o pão que o seu suor compra. E me causam inveja por isso.
Assim, meus caros, sou escritora, professora, psicanalista, administradora, artesã e blogueira, sem nenhum salário por isso.
Deveria eu ser alguém normal, como a gente toda que eu falei acima?
Ou
Deveria eu parar de escrever?
Ou
Vou vender ideias na feira.
Ou
Alguém me veja sentada na calçada com uma cuia de esmolas cantando uma canção de dez mil anos atrás e grave a música e fique famoso. Famoso pela história que eu construí.

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