quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O amor é contagioso e a tristeza também

Na semana em que Robin Williams deixou este mundo e, ao que indica, através de suicídio, o tema urge uma abordagem complementar. Nada mais propício que fazê-la na coluna de hoje. A depressão é o mal do século. Melhor abordando: a depressão é o mal do século?

A depressão que tira a vida de pessoas hoje é a mesma que tirou a vida de tantos outros do passado. Isso leva a crer que a depressão não é uma epidemia ou um novo mal. O homem sempre teve seus questionamentos acerca da vida, da existência e do sofrimento. Hoje, a facilidade em “suprir” ou melhor dizendo, em “suprimir” a dor está maior. As pessoas sucumbem ao sofrimento, se contaminam pelo mal que elas próprias querem mudar, mas não conseguem, ou em casos piores, lamentam a dor que passou de modo tão profundo e sofrem hoje porque sofreram no passado e não dá para ir no passado e evitar o que passou. Nos casos piores, elas abafam os sentimentos ruins, se fecham e se destroem lentamente.

Todo esse emaranhado de confusão psicológica explode numa desordem neuronal. Não existe um exame laboratorial para confirmar a depressão, mas sabe-se que há um déficit na produção de hormônios importantes para promover o bem-estar comum às pessoas. Antes de escrever a coluna de hoje, eu joguei no “google” indagações sobre a depressão  a fim de acompanhar as pesquisas científicas mais recentes no caso e sinceramente, não encontrei nada de novo que merecesse uma consideração.

As drogas continuam com o mesmo mecanismo de ação, as terapias pouco trazem de novo. Lí um pouco sobre a Terapia Dialética Comportamental, mas as publicações em Português ainda são incipientes e vou me aprofundar mais para falar com alguma propriedade. E hoje o que temos é uma humanidade embaixo de um diagnóstico de desequilíbrio emocional. O ápice é tamanho que em um site popular, você pode fazer “testes de depressão” e não importa o que você aponte, você sempre terá um nível de depressão. Eu fiz um teste desses agora a pouco... 18 questões e eu. Questões subjetivas e eu transbordando de calma, alegria e serenidade. Talvez nunca tenha estado tão sã e o resultado... DEPRESSÃO MODERADA!

Não obstante ao resultado, não critico o teste. Antes, acredito que só um louco não teria nenhum grau de depressão em uma sociedade como a nossa. O que acontece é que as pessoas evitam as emoções. Se as pessoas se preocupassem menos com a imagem que os outros vão ter delas e mais com sua realidade, elas se aceitariam melhor, aceitariam as tristezas e alegrias, insônias e dissabores e assim, os consultórios psiquiátricos estariam menos cheios.

Outro estigma que emerge com a depressão é a resistência. A resistência em assumir o problema, também está ligada a evitar emoções. Isso faz com que o ser humano busque fugas. Assim, têm-se as drogas ilícitas sempre presentes nos piores e melhores momentos. É muito compreensível que uma pessoa deprimida torne-se um dependente de drogas. A mente quer fugir da dor e os efeitos das drogas, oferecem essa fuga.

Os fins que os pacientes deprimidos dão hoje a sua tristeza contagia uma grande parcela de pessoas próximas a ele direta ou indiretamente. O amor, tão difundido e valorizado entre os familiares, amigos, fãs... As relações mesmo superficiais com o padeiro, o catador de lixo, o guarda de trânsito... Todas as relações são abaladas quando a depressão conduz a fins destrutivos.


Se você entendeu o trocadilho do título, vai entender o que estou falando. Porque será que quando me lembro do Robin Williams, só me aparece as cenas de suas caras e bocas, vozes e palhaçadas brincando com pacientes e levando alegria a quem não tinha mais esperança? Sabe aquelas pessoas que o amor contagia? Pois é... Muitas vezes, não é o amor. É a imagem que elas sustentam. Quando a imagem apaga, quando as cortinas se fecham e a solidão invade o camarim, o amor que contagia escorre com a maquiagem. A morte convidou, Robin Williams aceitou. Agora, só resta o luto. A dor dos que ficam. A incerteza de quem vai. A tristeza. E essa... Também contagia!

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