Na semana em que Robin Williams deixou este mundo e, ao que
indica, através de suicídio, o tema urge uma abordagem complementar. Nada mais
propício que fazê-la na coluna de hoje. A depressão é o mal do século. Melhor
abordando: a depressão é o mal do século?
A depressão que tira a vida de pessoas hoje é a mesma que
tirou a vida de tantos outros do passado. Isso leva a crer que a depressão não
é uma epidemia ou um novo mal. O homem sempre teve seus questionamentos acerca
da vida, da existência e do sofrimento. Hoje, a facilidade em “suprir” ou
melhor dizendo, em “suprimir” a dor está maior. As pessoas sucumbem ao
sofrimento, se contaminam pelo mal que elas próprias querem mudar, mas não
conseguem, ou em casos piores, lamentam a dor que passou de modo tão profundo e
sofrem hoje porque sofreram no passado e não dá para ir no passado e evitar o
que passou. Nos casos piores, elas abafam os sentimentos ruins, se fecham e se
destroem lentamente.
Todo esse emaranhado de confusão psicológica explode numa
desordem neuronal. Não existe um exame laboratorial para confirmar a depressão,
mas sabe-se que há um déficit na produção de hormônios importantes para
promover o bem-estar comum às pessoas. Antes de escrever a coluna de hoje, eu
joguei no “google” indagações sobre a depressão
a fim de acompanhar as pesquisas científicas mais recentes no caso e
sinceramente, não encontrei nada de novo que merecesse uma consideração.
As drogas continuam com o mesmo mecanismo de ação, as
terapias pouco trazem de novo. Lí um pouco sobre a Terapia Dialética
Comportamental, mas as publicações em Português ainda são incipientes e vou me
aprofundar mais para falar com alguma propriedade. E hoje o que temos é uma
humanidade embaixo de um diagnóstico de desequilíbrio emocional. O ápice é
tamanho que em um site popular, você pode fazer “testes de depressão” e não
importa o que você aponte, você sempre terá um nível de depressão. Eu fiz um
teste desses agora a pouco... 18 questões e eu. Questões subjetivas e eu
transbordando de calma, alegria e serenidade. Talvez nunca tenha estado tão sã
e o resultado... DEPRESSÃO MODERADA!
Não obstante ao resultado, não critico o teste. Antes,
acredito que só um louco não teria nenhum grau de depressão em uma sociedade
como a nossa. O que acontece é que as pessoas evitam as emoções. Se as pessoas
se preocupassem menos com a imagem que os outros vão ter delas e mais com sua
realidade, elas se aceitariam melhor, aceitariam as tristezas e alegrias,
insônias e dissabores e assim, os consultórios psiquiátricos estariam menos
cheios.
Outro estigma que emerge com a depressão é a resistência. A
resistência em assumir o problema, também está ligada a evitar emoções. Isso
faz com que o ser humano busque fugas. Assim, têm-se as drogas ilícitas sempre
presentes nos piores e melhores momentos. É muito compreensível que uma pessoa
deprimida torne-se um dependente de drogas. A mente quer fugir da dor e os
efeitos das drogas, oferecem essa fuga.
Os fins que os pacientes deprimidos dão hoje a sua tristeza
contagia uma grande parcela de pessoas próximas a ele direta ou indiretamente.
O amor, tão difundido e valorizado entre os familiares, amigos, fãs... As
relações mesmo superficiais com o padeiro, o catador de lixo, o guarda de
trânsito... Todas as relações são abaladas quando a depressão conduz a fins
destrutivos.
Se você entendeu o trocadilho do título, vai entender o que
estou falando. Porque será que quando me lembro do Robin Williams, só me
aparece as cenas de suas caras e bocas, vozes e palhaçadas brincando com
pacientes e levando alegria a quem não tinha mais esperança? Sabe aquelas
pessoas que o amor contagia? Pois é... Muitas vezes, não é o amor. É a imagem
que elas sustentam. Quando a imagem apaga, quando as cortinas se fecham e a
solidão invade o camarim, o amor que contagia escorre com a maquiagem. A morte
convidou, Robin Williams aceitou. Agora, só resta o luto. A dor dos que ficam.
A incerteza de quem vai. A tristeza. E essa... Também contagia!
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