segunda-feira, 4 de agosto de 2014

2ª carta de amor a Nietzsche

Fritz,
Meu amor! 
A lei do eterno retorno me trouxe mais uma vez a você e será sempre assim... Você não é para mim o meu tudo. Você não é um 'deus'. Eu respeito a sua própria vontade de não querer ser. Eu sei o quanto você precisa de mim e eu sei mais ainda o quanto você fica bem ao receber minha cartas. 
A vantagem em sermos espíritos livres, é que podemos nos encontrar esporadicamente sem muitas explicações para tratar daquilo que nos interessa, nos preocupa e isso é o que nos une!
Depois que você me contou sobre a morte do seu irmão e como você já sabia que Karl Ludwig, sairia de seu túmulo para buscar o pequeno Joseph eu fico ainda mais próxima a você e sinto como o nosso Deus esteve sempre presente em você do mesmo jeito que está em mim. O Deus que não cabe dentro de uma religião. O Deus que ultrapassa os limites de uma seita. 
Até porque, meu amor, só transcendendo o valor que o cristianismo dá a Deus é que podemos justificar o entendimento daquilo que você quis dizer quando afirmou que Deus está morto. 
Ora, se é Deus, não morre. 
Para morrer, existiu. 
Se existiu e é Deus, está vivo! 
Mas um Deus vivo do jeito que a estrutura religiosa processa a oposição entre o bem e o mal, o justo e o injusto e a separação do plano divino do terreno só diz que o 'além daqui' é melhor que o aqui. Mas, pode não ser. Ou, meu amor? Ou?
A sombra que aterrorizou a Europa, incutindo o medo nas pessoas de um castigo eterno, não passou com você. Não vai passar comigo. Temo que não passe com ninguém! Essa sombra agora aterroriza todos os continentes. As pessoas acreditam que estão certas. Elas se julgam salvas. Elas julgam os condenados. Elas condenam inocentes e inocentam os culpados, veja só, em nome de DEUS!
Porque a verdade tem que ser uma? Em tudo que há o dedo do homem, há o erro. Se o próprio homem matou Deus, como pode guiar alguém até Ele?
Penso que enquanto você lê essa carta, você acaricia o seu bigode e um riso escapa... Chama Deus e mostra a Ele! Certamente estão os dois aí rindo de tudo isso aqui que as pessoas insistem em chamar de moralidade! Filosofias políticas e utopias modificadas pelo dedo sujo do homem. 
Quem, além de você Fritz, vai erguer a voz e ser ouvido?
Se você estivesse aqui, certamente diria que o mundo tornou-se a Alemanha do século XIX que você tanto desprezou! Pessoas que não valorizam o pensamento, que se apoiam em fundamentalismos porque se contentam com o limite intelectual imputado por um código... moral.
Sabe que hoje falam em transcendência humana? Falam em Filosofia Transhumanista. Ora, vejam só! Não teriam eles se inspirado em Zaratustra? É assim que estamos, Fritz, tecendo e aprimorando ideias. Somos plagiadores de ideais. 
Criamos ideais porque não podemos suportar o real. Mas a base do real que você nos deu, sustenta agora o ideal de uma humanidade desumana, demasiadamente desumana.
Quando lembro que pra você era preferível cair no meio de porcos que de alemães, eu sinto o alto grau de compaixão que você sente por mim por eu ter caído onde caí. Ao meu redor, encontra-se uma Alemanha ainda mais nazista que a do Führer. Humanos de extremos. Certezas absolutas. 
A não-hesitação gera guerra e a guerra destrói. Sabendo que a nossa desconstrução não prevê a extinção, isso deve preocupar.
Por fim, tenho vergonha de pensar, tenho medo de escrever, tenho dúvida de ser. Mais uma coisa eu não me furto: agradecer a Deus todos os dias por ter você em minha vida.
É, Nietzsche... Eu sei amar você!

Com todo o sentimento,
Hellen Taynan

Veja a PRIMEIRA CARTA

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