Na segunda-feira estava ouvindo a
TV (já que assistir seria luxo demais para alguém com o tempo escasso como o meu)
e algo me chamou atenção. O assunto era a adoção de crianças. Tentando me
desvencilhar do emocionalismo transmitido pelo programa televisivo, decidi ler
sobre o assunto e ponderar os argumentos para sustentar minha opinião.
O ser humano é um ser
interessantemente contraditório. Ele é em essência, indivíduo. Em essência, é
solidão e assim conseguiria sobreviver até o fim de sua vida. Se sua vida seria
boa ou má, já é outra discussão. Mas, voltando: o ser humano é contraditório
porque enquanto sua essência é individual, sua necessidade é social.
Grandes poetas e estudiosos já
afirmaram que é impossível ser feliz sozinho. A constituição da família parte
de dois seres que se amam e decidem compartilhar uma vida juntos. Ainda assim,
com o tempo, só os dois não é o bastante, e então, pensa-se em criar um animal
de estimação ou ter um filho.
A perspectiva cristã incentiva
que a mulher gere frutos, isso se interpreta atribuindo a Deus o mandamento de
multiplicar-se. Não vou rebater isso, mas vamos pensar socialmente. Somos 7
bilhões de viventes em um mundo que há muito tempo deixou de ter espaço para todos.
O mundo tem espaço para os mais fortes e os que não conseguem sucesso, dividem
o mesmo metro quadrado com mais alguns milhões...
A comida é escassa.
A água é escassa.
A ciência é limitada.
Socialmente falando e
pessoalmente falando (e isso é importante dizer para que entendam que é MINHA
opinião), considero a gravidez hoje, um ato que beira ao egoísmo. Se nós
decidirmos sermos pais e mães, devemos pensar não nos nossos filhos, mas nos
filhos dos nossos filhos. O que restará a eles? As pessoas são cegadas por uma
visão otimista achando que as coisas vão melhorar... As coisas boas vão sempre
existir. As felicidades, os relacionamentos, as amizades... Geralmente, as
melhores coisas não se pode contar. Mas, tenho minhas dúvidas se sou mais feliz
hoje sendo uma personalidade virtual do que o foi meu avô, cuidando do gado na
fazenda, sem luz elétrica e sem TV...
Não perdendo o foco... Você quer
ser pai? Você quer ser mãe? Estou a anos-luz de negar-lhe tal desejo (nem
poderia). Mas lembre de como começou essa história: o ser humano tem
necessidade de sociedade. E quantos seres humanos hoje, crianças, não estão
descobrindo a dor da solidão porque nunca tiveram um abraço carinhoso dos seus
pais?
Se você visitar os lares de
adoção, corre o risco saudável de descobrir que o seu filho já nasceu e está
todo amor lhe esperando para lhe ser grato pelo resto da vida por tê-lo dado a
chance de lhe encontrar. Seja por casos de infertilidade, seja por casos de
realização pessoal o fato é que adotar pode ser a melhor decisão de sua vida. É
verdade que a burocracia é muito grande para os processos de adoção. Em tese, o
amor seria mais do que suficiente, mas o fato é que essa burocracia acaba
ajudando se pensarmos que só adota, quem realmente insiste e, insistindo,
espera-se que seja uma decisão honesta, sincera e racional.
Em outras palavras, a mesma
burocracia que dificulta o processo de adoção, favorece o sucesso do
relacionamento da nova família.
Se você é homem ou mulher maior
de idade, qualquer que seja o estado civil e desde que 16 anos mais velho do
que o adotando; pode se inscrever no Cadastro de Adoção e se tiverem a
habilitação deferida, entram na lista.
Os casos de crianças abandonadas
são histórias invertidas. Começam pelo fim e primeiro se conhece a dor. Mas o
final da história pode significar um novo começo. O ponto final após o “e foram
felizes para sempre”, na verdade pode ser o enredo para um novo “era uma vez”.
Você deveria se sentir feliz por saber que tem em suas mãos a possibilidade de
dar a outra pessoa o início de uma história.
Um comentário:
Concordo quando você diz que é egoísmo ter filhos hoje. Realmente, devemos não somente pensar no que temos a oferecer, até porque o tradicional casa, comida, roupa lavada e escola, não é o suficiente.
Antes, devemos pensar no que o sistema de hoje como um todo tem a oferecer. Já está mais que provado pelo comportamento dos que muito recebem, que o mais importante não são coisas. E, vamos combinar, o mundo está escasso de VALORES.
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