quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Melhor do que ter um filho, é conhecer um filho

Na segunda-feira estava ouvindo a TV (já que assistir seria luxo demais para alguém com o tempo escasso como o meu) e algo me chamou atenção. O assunto era a adoção de crianças. Tentando me desvencilhar do emocionalismo transmitido pelo programa televisivo, decidi ler sobre o assunto e ponderar os argumentos para sustentar minha opinião.
O ser humano é um ser interessantemente contraditório. Ele é em essência, indivíduo. Em essência, é solidão e assim conseguiria sobreviver até o fim de sua vida. Se sua vida seria boa ou má, já é outra discussão. Mas, voltando: o ser humano é contraditório porque enquanto sua essência é individual, sua necessidade é social.
Grandes poetas e estudiosos já afirmaram que é impossível ser feliz sozinho. A constituição da família parte de dois seres que se amam e decidem compartilhar uma vida juntos. Ainda assim, com o tempo, só os dois não é o bastante, e então, pensa-se em criar um animal de estimação ou ter um filho.
A perspectiva cristã incentiva que a mulher gere frutos, isso se interpreta atribuindo a Deus o mandamento de multiplicar-se. Não vou rebater isso, mas vamos pensar socialmente. Somos 7 bilhões de viventes em um mundo que há muito tempo deixou de ter espaço para todos. O mundo tem espaço para os mais fortes e os que não conseguem sucesso, dividem o mesmo metro quadrado com mais alguns milhões...
A comida é escassa.
A água é escassa.
A ciência é limitada.
Socialmente falando e pessoalmente falando (e isso é importante dizer para que entendam que é MINHA opinião), considero a gravidez hoje, um ato que beira ao egoísmo. Se nós decidirmos sermos pais e mães, devemos pensar não nos nossos filhos, mas nos filhos dos nossos filhos. O que restará a eles? As pessoas são cegadas por uma visão otimista achando que as coisas vão melhorar... As coisas boas vão sempre existir. As felicidades, os relacionamentos, as amizades... Geralmente, as melhores coisas não se pode contar. Mas, tenho minhas dúvidas se sou mais feliz hoje sendo uma personalidade virtual do que o foi meu avô, cuidando do gado na fazenda, sem luz elétrica e sem TV...
Não perdendo o foco... Você quer ser pai? Você quer ser mãe? Estou a anos-luz de negar-lhe tal desejo (nem poderia). Mas lembre de como começou essa história: o ser humano tem necessidade de sociedade. E quantos seres humanos hoje, crianças, não estão descobrindo a dor da solidão porque nunca tiveram um abraço carinhoso dos seus pais?
Se você visitar os lares de adoção, corre o risco saudável de descobrir que o seu filho já nasceu e está todo amor lhe esperando para lhe ser grato pelo resto da vida por tê-lo dado a chance de lhe encontrar. Seja por casos de infertilidade, seja por casos de realização pessoal o fato é que adotar pode ser a melhor decisão de sua vida. É verdade que a burocracia é muito grande para os processos de adoção. Em tese, o amor seria mais do que suficiente, mas o fato é que essa burocracia acaba ajudando se pensarmos que só adota, quem realmente insiste e, insistindo, espera-se que seja uma decisão honesta, sincera e racional.
Em outras palavras, a mesma burocracia que dificulta o processo de adoção, favorece o sucesso do relacionamento da nova família.
Se você é homem ou mulher maior de idade, qualquer que seja o estado civil e desde que 16 anos mais velho do que o adotando; pode se inscrever no Cadastro de Adoção e se tiverem a habilitação deferida, entram na lista.

Os casos de crianças abandonadas são histórias invertidas. Começam pelo fim e primeiro se conhece a dor. Mas o final da história pode significar um novo começo. O ponto final após o “e foram felizes para sempre”, na verdade pode ser o enredo para um novo “era uma vez”. Você deveria se sentir feliz por saber que tem em suas mãos a possibilidade de dar a outra pessoa o início de uma história.

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo quando você diz que é egoísmo ter filhos hoje. Realmente, devemos não somente pensar no que temos a oferecer, até porque o tradicional casa, comida, roupa lavada e escola, não é o suficiente.
Antes, devemos pensar no que o sistema de hoje como um todo tem a oferecer. Já está mais que provado pelo comportamento dos que muito recebem, que o mais importante não são coisas. E, vamos combinar, o mundo está escasso de VALORES.