domingo, 13 de julho de 2014

O utilitarismo da decepção

A decepção não é privilégio de alguns. O sofrimento é o que há de mais democrático no mundo. Contra sentimentos, não há totalitarismo que proteja e a decepção é um deles. No entanto, para haver decepção deve, em algum momento, deve haver o romantismo.

O romantismo que faz um homem pensar que outro homem, da mesma essência dele, é capaz de lhe proporcionar algo prazeroso, faz com que expectativas sejam criadas. Pessoas movidas por paixões, romantizam a vida e mesmo quando chegam à verdade sobre o homem, exclui alguns poucos do grupo de ignóbeis criaturas. Ao excluir um igual dentre os iguais, há primeiro a retina ingênua de enxergar um "que" de diferente e depois, a decepção por se deparar com a mesma substância podre. Assim é a paixão: uma miopia grave, mas reversível.

A paixão é uma doença porque desvia o homem do real caminho de sua felicidade. Quando um homem entende que a paixão que pode levar-lhe à sua felicidade depende de outra coisa que não depende dele próprio, deve estar consciente de que aquilo que ele não pode controlar volta-se contra ele.

Fazer o seu prazer depender do outro é uma atitude masoquista e míope no mais alto grau. Evitar decepcionar-se é evitar a paixão. É descobrir que sozinho, o ser humano se basta. As pessoas têm que ser tratadas como iguais e para saber em que consiste essa igualdade, deve-se pensar em uma única palavra: egoísmo.

A mais dura decepção não é quando você vê as pessoas como mais ou menos boas. A mais dura decepção é quando você entende que o ser humano não é digno de promover o bem de outro, mas mesmo sabendo disso, você exclui alguém desse grupo e esse alguém o engana. A culpa foi de quem lhe decepcionou ou sua de criar expectativa?

A culpa é sua. Não só a culpa, mas toda a insanidade, cegueira, visão errada, distorção, romantismo, utopia e fraqueza. Esperar altruísmo no estado divino de um ser humano da mesma essência sua, é como esperar que um vulcão em erupção espalhe mel.

O utilitarismo da decepção é o ceticismo. E aí você percebe a verdadeira utilidade do outro em sua vida. Dessa forma, você deve agradecê-lo por ter-lhe curado de todas as ridículas obsessões pelo amor a outro ser humano.

Brindemos a isso, pois!

Hellen Taynan --- 13/07/2014 --- 14:25

Nenhum comentário: