quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O que os Suicidas Desejam Matar?

Caros leitores, eu acredito que espero mais ansiosa que vocês pelas quartas-feiras, para nos encontrarmos e eu ter o rico privilégio de ler os comentários que vocês fazem. Cada crítica e cada elogio me fazem desejar apresentar sempre o melhor a vocês. Semana passada, falei um pouco sobre a depressão e hoje quero tratar do ponto máximo que a doença mental pode levar o indivíduo, o suicídio.
A palavra “suicídio” pode soar muito pesada, principalmente quando pensamos nas consequências do seu significado. Alguns consideram covardia, outros, coragem, mas poucos conseguem refletir sobre o real motivo que leva algumas pessoas a pensar ou mesmo cometer tal ato. E o que você tem a ver com isso? O suicídio é uma das primeiras causas de morte de jovens no Brasil; dados recentes mostram que 26 brasileiros cometem suicídio por dia, mas ninguém quer falar sobre esse assunto. Na obra de Bertolote “O Suicídio e sua Prevenção” (Ed. Unesp), observamos a terrível estatística que mostra que o aumento proporcional na taxa de suicídio no Brasil nos últimos 25 anos é maior do que o crescimento da média populacional.
O que eu observo quando acompanho jovens que pensam em suicídio revela que 90% deles padecem de uma dor muito profunda e não veem saída. Quando eu pergunto por que eles querem morrer, respondem que não tem nenhuma solução, que todas as tentativas de ser feliz se esgotaram e que não existe mais esperança. Então eu pergunto se caso houvesse uma resposta e um antídoto para matar a dor, ele gostaria de continuar vivendo e é quase unânime ouvir um sim. Logo é fácil concluir que quem comete suicídio, não quer deixar de viver e sim, deixar de sofrer. Querem matar a dor, não o ser.
Por constatar essa realidade, a OMS estimula países onde a taxa de suicídio é alta, a realizarem campanhas de prevenção ao suicídio. Na verdade o tema ainda hoje é tabu até mesmo para profissionais de saúde que evitam utilizar este termo, usando eufemismos desnecessários para referir-se à dura realidade.
Ser feliz está na moda. As redes sociais e os anúncios de televisão estão repletos de felicidade e isso não é errado. O erro está em estabelecer um padrão de felicidade que por vezes está fora da realidade. Parece que hoje todo mundo tem a obrigação de estar sempre bem, sempre sorrindo, sempre feliz, sempre segurando uma máscara para agradar a sociedade enquanto por dentro há um conflito terrível entre dois gigantes lutando para vencer e, infelizmente, no caso dos suicidas, vence o gigante do mal.
Sugiro a você que você alimente o gigante do bem que está dentro de você dos que estão à sua volta. Você pode ser um agente de prevenção ao suicídio e colaborar para que as pessoas consigam vislumbrar as respostas que precisam para erguer a cabeça e entender que não é o fim. Afinal, como diria o poeta “o único fim da esperança, é a morte”, pelo menos nesse mundo.
Como posso ser um agente de prevenção ao suicídio? Meus queridos, muito mais do que substâncias que retardam a atividade cerebral tratando das diversas enfermidades emocionais, a conversa ainda é o melhor tratamento para pacientes nestas condições e esta constatação não é minha, é da ciência! A maior parte das pessoas que cometem suicídio é composta de pessoas solitárias, introspectivas, de poucos amigos, tímidas, discriminadas nos grupos por características “diferentes”. O que converge para o mesmo ponto é: todas precisavam ser ouvidas. Por esta razão, não é raro encontrar longas cartas de despedidas onde a pessoa antes de morrer, escreve tudo o que gostaria que alguém a tivesse ouvido falar.

Você não precisa de um diploma para dedicar parte do seu tempo a ouvir alguém que lhe parece triste, que se isola dos demais ou que está enfrentando algum trauma físico ou emocional. Um dos maiores problemas do mundo moderno é que muitos querem falar, mas poucos querem ouvir. É preciso saber calar diante da dor do outro e deixar que o coração dele fale. E quando as palavras não puderem sair, fale com seus olhos e escute com o coração. Abrace a pessoa longamente e sinta a alma dela de modo que através de seu abraço você consiga ser um instrumento de paz que ela precisa tocar naquele momento.

Publicado em: Jornal de Caruaru

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