quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Sendo bem "ISTA"

Neste Natal não desejei feliz Natal a quase ninguém. A quem o fiz, fiz no modo automático respondendo apenas os desejos de quem a mim chegava. Mais por obrigação que por entusiasmo, o que me fez refletir como é mesmo incrível como o tempo muda nossa percepção seja de ouvidos, paladar, pensamentos ou condutas. Tudo sempre está em movimento num tempo que não dá pra armazenar e deixar protegido numa caixinha. O que sobra do tempo em caixinhas são fotografias, recortes, diários, bilhetes e anotações que para um qualquer - como eu - foram um dia tão caros, como o Natal! 

Natal do Menino Deus, Jesus Cristo, que nasceu pobrezinho numa manjedoura e que você tanto respeitava e acreditava e reproduzia aquela história e memorial. A expectativa! Expectativa de reunir a família em volta da mesa e cear juntos, felizes, confraternizando, trocando juras e promessas de estar sempre junto, sempre perto. Como um ser frágil, quase vulnerável, você devia respeito, silêncio e obediência a seus pais e aos mais velhos. Você precisa segurar forte a mão do seu pai para ninguém levar você dele. Ele precisa te deixar e buscar na escola e em todas as atividades que você participa.

Daí você cresce e consegue discernir a direção que tem que seguir para chegar até sua casa. Você  tem bom reflexo e coordenação garota! Pode atravessar a rua sozinha sem a mão do seu pai para lhe guiar. E mais! Você pode ir à rua sozinha, depois a outro bairro, outra cidade, estado e país. Uau! 

Seria sensacional, não fosse por desconfiar que ao pisar fora de casa sozinha sem o calor da mão dos seus pais na sua, a frieza do mundo vai resfriando a alma. A cada dia você dá um passo maior e quando percebe, você correu tão longe que se perdeu. Perdeu-se no esquecimento das juras que fez, perdeu-se no choro que engoliu seco porque não suportava a ideia de ficar ao menos um dia longe do ninho e agora consegue sorrir todos os dias e muitas vezes vive como se não existisse nada. Nem Natal, nem Jesus, nem ceia, nem família. 

Você, que tanto exaltou sua liberdade agora anda com medo. Pensa antes de falar e não obstante todo o cuidado ainda é culpada pelo mal-estar que suas palavras causam. E ouve coisas que nunca ouviu, e sente medo e vergonha de ser quem é, e tudo o que você acreditava que era de bom, você não é mais. Sua espontaneidade de virtude, passou a defeito. Não, você não é verdadeira! Afinal, quem pode ser como você? Só pode estar sendo cínica. O mundo lhe convence que você está errada, quando na verdade você está é pequena! Você diminuiu e você vai sumindo a cada vez que cede algo que nunca faria, a cada vez que baixa a cabeça e pede desculpas, mesmo sabendo que não devia.

E então por tudo isso, você simplesmente agradece. Agradece ter congelado um pouco a alma e ter se tornado menos humana. O calor que aquecia o amor puro e eterno do coração que desejava feliz Natal com um sorriso largo, jamais suportaria o inverno glacial do mundo que te engoliu. E assim, com doses exageradas de realismo e cerveja, você aprende que ser pessimista é apenas uma tentativa tola de protelar otimismo antes de encarar a realidade.

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