terça-feira, 18 de agosto de 2015

AUTOS

Não é que eu estaria melhor se não estivesse aqui. É uma questão que em nenhum lugar eu estaria bem. 

Não, não é culpa de ninguém se não minha. Alguns me vêem como se eu me colocasse sempre como vítima. É, eu sou vítima mesmo. Vítima de mim mesma! Uma coitada indefesa frágil que morreu há algum tempo e hoje oscila entre o vácuo de ter se perdido e o luto de ter falecido.

Talvez isso faça doer os ouvidos de quem lê e pensa que tem algum sentimento nobre por mim além de pena. Acredite, dói muito mais em mim. Acredite também que não contesto nenhum sentimento nobre de sua parte. Na verdade eu nem me esforço para isso.

De longe sou aquela menina fofa e educada, que fala manso e em tom baixo, que é paciente e vai dar um sorriso amarelo em qualquer situação. Em minha essência fui temperada de sal e pimenta. Nada insípido se parece comigo. Causo transtorno sempre onde quer que eu esteja. 

Se sou alegre, meu sorriso é largo e sincero. Todas as cores e nuances e nunca amarelo. Faço rir e conto piadas. Uma figura!
Se sou triste, a tristeza nunca vem só. Sou triste e agressiva. Meu armamento ode a angústia é forte, certeiro e fatal. Incomodo o que se diz esperto, ponho dúvidas no que se julga feliz. 
Se livre para fazer o que quero, fico perdida. O que eu quero?

Espontaneidade? Sempre! Intensidade? Nunca duvide!

Não é que eu estaria melhor se não estivesse aqui. É uma questão que bem mesmo, só estaria fora. Não fora daqui, mas fora de mim. Aqui dentro é caótico demais. Amor demais que transborda sinceridade e as pessoas não estão muito acostumadas a isso. 
Sou a carta que escancara quem eu sou, o que penso e onde quero estar, mas é ignorada pelo protagonista. 

E eu, egoísta e certeira, vaidosa e pretensiosa, astuta e petulante, digo com certeza: ninguém pode ser mais complexo. Meu universo é sempre paralelo aquele que todos vivem. Quando encontro alguém semelhante, de tão semelhante, me faz exato o que eu faria e assim, dispersa-se de mim.

Agora vivo sobre. Sobrevivo sem viver. 
Espero um dia a vida acabar e que assim acabe meu sofrer. 
De autos em autos me escoro. 
Me esquivo em autobiografias. 
Sou chegada a números e música, 
tenho uma queda por poesia. 

Sou toda sentimento e assim vou me destruindo 
num mundo onde se confunde compaixão com amor. 

Não, não se engane sobre mim... 
Sinto muito e tudo por quase todos, 
do zero absoluto ao infinto positivo. 

E acredite: você não sente nada por mim... 
Porque por mim, até eu duvido meu sentir.

Nenhum comentário: