quinta-feira, 14 de maio de 2015

SAUDADE

Saudade de quando eu escolhia passar o rímel à prova d’água porque eu ponderava a possibilidade de chorar e escorrer pelos olhos. Hoje eu saio de casa sem rímel, porque não faz falta se eu passar ou não.


Saudade de quando eu ia dormir com a certeza do salto que eu usaria no dia seguinte, sabendo exatamente o olhar invejoso e até nojento de algumas meninas para os meus sapatos exclusivos e o meu andar quase em desfile. Hoje, tanto faz qualquer rasteira.

Saudade de quando meu olho era capaz de enxergar além do preto, branco e cinza no espectro e as roupas e os acessórios tinham mais cores. Hoje, só existem essas variações.

Saudade de quando eu conseguia dizer “amém” quando alguém dizia “Deus te abençoe”.

Saudade de quando eu dava “graças a Deus” e quando eu dizia “se Deus quiser”.

Saudade de quando havia Deus na minha vida.

Saudade de quando havia vida.

Saudade de mim.

Porque hoje eu não sei quem é Deus.

Porque hoje eu não sei nem quem eu sou.

Um comentário:

Carolina Frîncu disse...

Fia, o desespero da desconstrução é tb sua beleza e a chance de lançar alicerces mais fortes. Eu te amo. Estou segura em dizer isso.