Saudade de quando eu escolhia passar o rímel à prova d’água
porque eu ponderava a possibilidade de chorar e escorrer pelos olhos. Hoje eu
saio de casa sem rímel, porque não faz falta se eu passar ou não.
Saudade de quando eu ia dormir com a certeza do salto que eu
usaria no dia seguinte, sabendo exatamente o olhar invejoso e até nojento de
algumas meninas para os meus sapatos exclusivos e o meu andar quase em desfile.
Hoje, tanto faz qualquer rasteira.
Saudade de quando meu olho era capaz de enxergar além do
preto, branco e cinza no espectro e as roupas e os acessórios tinham mais
cores. Hoje, só existem essas variações.
Saudade de quando eu conseguia dizer “amém” quando alguém
dizia “Deus te abençoe”.
Saudade de quando eu dava “graças a Deus” e quando eu dizia
“se Deus quiser”.
Saudade de quando havia Deus na minha vida.
Saudade de quando havia vida.
Saudade de mim.
Porque hoje eu não sei quem é Deus.
Porque hoje eu não sei nem quem eu sou.
Um comentário:
Fia, o desespero da desconstrução é tb sua beleza e a chance de lançar alicerces mais fortes. Eu te amo. Estou segura em dizer isso.
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