Era terça-feira, o relógio aproximava-se das 17h e eu estava em uma reunião tentando me encaixar no meio de pessoas que já tinham seus propósitos bem definidos. Às vezes eu tenho a impressão de que não me encaixo no mundo real ou pelo menos das ciências aplicadas... Ser artista seria muito bom. Pensar, sonhar, escrever e arrancar choros e risos dos outros deve contribuir muito mais para a evolução do mundo do que discutir metodologias quanti e quali e tantos nomes que nunca ouvi falar e que por mais validação científica que apresentem, nunca vão conseguir valorar o que há de mais importante.
Mas...
Eis que às 17h meu celular toca. Eu não atendo celular em sala de aula. Principalmente em reuniões. Nem mesmo quando a pauta é desenvolver um estudo sobre relacionamento de grupos de apreciadores de cervejas caras. Mas eu atendi. E também quando atendi, que se identificaram dizendo que era da Clínica de Tratamento Capilar, pensei logo em dispensar, julgando que seria mais viável para mim discutir sobre as cervejas. Mas não o fiz. Antes, pedi licença e saí da sala.
Explico... Eu, eu, eeeeu... Situação indefinida. Nem um projeto de pesquisa concreto a tocar, quiçá uma boa condição financeira... Quando eu iria dispor de 500,00 para dar em uma consulta para tratar do meu cabelo? E ainda, esperar uma vaga que só teria em junho de 2015!
Um médico, internacionalmente conhecido que cobra 500,00 a consulta, que tem a agenda cheia até metade do ano seguinte, que uma cirurgia é em torno de 30.000,00 e que vem gente de todo o mundo e oferece jóias e dinheiro para conseguir passar na frente... Um médico desse quilate, jamais ira perder tempo com uma pessoa como eu. Ou?
Quando Deus manda, meu caro, o seu celular toca.
Enfim, eu tinha agora minha história conhecida por alguém de influência lá que me passou o e-mail pessoal do médico e me prometeu atenção especial em caráter urgente e de cortesia.
Ao desligar o telefone, senti vergonha de Deus. O respeito que eu sempre tive por Ele e o reconhecimento de que Ele pode todas as coisas, permaneceu o mesmo, foi apenas confirmado para que eu não esquecesse. E também para que eu me arrependesse por ter sido tão dura com Ele. Na verdade, eu me arrependo de ter passado em algum momento que eu poderia ser superior a Ele a ponto de entendê-lo enquanto Ele próprio não se entendia. Foi exatamente isso.
Maldita herança sofista que tenho, que certamente me acompanha há muitas vidas!
Não!!! Eu não sou maior do que Deus! Eu não preciso tentar entender Deus. Eu não preciso assinar tão grande atestado de ignorância achando que tenho algum direito sobre alguma coisa que Ele me deu. Muito embora eu me revolte, eu não concorde e eu não queira, eu respeito.
O médico me respondeu o e-mail na manhã de quarta. Me sugeriu um tratamento.
O tratamento pode até não dá certo em termos concretos. Mas já foi muito eficaz naquilo que metal nenhum compra: a esperança! Essa é taxada e valorada por Deus e não há barganha.
Perdoe-me Deus, eu achei que o Senhor nem tinha o número do meu celular...
Perdoe-me Deus, eu achei que o Senhor nem lia meu blog...
Obrigada Deus por me dar todo o tesouro que tem o brilho renovado a cada Palavra sua ao meu coração. Palavra não dita, inteligível, mas sentida.
Eu sinto.
Eu amo.
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