quarta-feira, 23 de julho de 2014

Morre o corpo de um espírito Imortal

A quarta-feira hoje bem que poderia ser de cinzas. Eu não gosto de carnavais, mas se a gente pensar poeticamente, o romantismo pode nos fazer ver que o carnaval também representa castelos de sonhos e fantasias onde tudo é permitido, onde a imaginação nos transporta ao céu e ao inferno. Onde as duas portas que determinam o nosso destino se abrem e um julgamento cheio de amor e compaixão nos concede uma nova oportunidade.

Era assim que Ariano via, não? Uma mente privilegiada e uma vida bem vivida! Bem-vivida não só pelos seus 87 anos de lucidez. Bem-vivida não só pelos laços familiares que construiu. Mas bem-vivida, acima de tudo, porque levou em seus ombros suas origens. Valorizou sua história. Foi paraibano, foi pernambucano, falou “OXENTE” até o último dia! E, com certeza, até o último dia, conseguiu ser querido por alguém através de sua simplicidade e sua humildade.

Ariano tinha quase tudo para ser tudo. Mas ele preferiu não ser tudo, porque tudo engloba a soberba, a ganância e a arrogância. Isso não cabia nele. Um coração humilde, que certa vez, em uma Aula Magna na UFPE, onde tive o prazer de conhecê-lo, contar-lhe minha paixão por seu estilo literário e tirar algumas fotos, e de todo o luxo digno que uma personalidade do seu quilate poderia exigir, tudo o que ele pediu foi água de coco, cadeira e mesa.

No dia em que ele sofreu o AVC, ele foi ter com o Grande Juiz. A audiência acabou hoje. Não havia Chicó no hospital para tocar a flauta e trazê-lo à vida. Ou talvez, Chicó tocou a flauta lá em cima mesmo e por lá ele ficou. A doce e romântica esperança de que não acabou aqui deve acalentar nosso coração neste momento de luto.

Saber que Deus é sábio o suficiente para não permitir que uma mente tão brilhante pare com a última batida do coração. Aliás, tenho desconfianças de que estão mesmo precisando de bons escritores e pensadores no céu (talvez seja até por isso que eu ainda estou aqui escrevendo)...


Ariano Suassuna, cumpriu sua sentença. Aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo. Mas a sua sentença na Terra era ser imortal e ele estará sempre vivo, na Academia, nos seus livros e nos seus personagens. Vai em paz, Ariano! E que essa geração NUNCA deixe que as próximas que virão esqueçam você.

Com todo o sentimento,
Hellen Taynan

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