domingo, 2 de fevereiro de 2014

A relação entre o ser humano e a comida

Por: Hellen Taynan

Olá caríssimos leitores,

Com a matéria de hoje, dou uma pausa nos transtornos emocionais e inicio uma “nova temporada” que vai tratar de um assunto muito interessante: a relação entre o ser humano e a comida. O cronograma de postagens vai abranger uma introdução sobre o assunto, ainda um pouco ligada à saúde mental, pois como vamos ver, desequilíbrios alimentares estão ligados a problemas e traumas que levam a um comportamento compulsivo; após essa introdução, pretendo abordar fatos sobre minha experiência expondo a vocês como eu saí dos 56kg para 105kg em poucos anos e o processo cirúrgico ao qual me submeti para eliminar 35kg e manter o peso há 3 anos! Fiquem atentos, pois este cronograma também vai abordar as dietas da moda e mostrar o que elas prometem e o que cumprem (ou se cumprem) na realidade.
Assim, convido vocês a passearem junto comigo, me conhecendo um pouco mais e aprendendo com minha experiência! Não deixe de expressar sua opinião, pois é muito importante para mim, saber como repercute na vida de vocês aquilo que eu escrevo aqui.
Transtornos Alimentares
transtorno alimentar
Qualquer comportamento alimentar que foge aos padrões da normalidade, seja pra mais ou pra menos, é designado como um transtorno, uma patologia que possui inclusive descrição no CID 10 e como toda doença, quando diagnosticada no início, tem ótimos prognósticos. As pesquisas iniciais mostravam que este tipo de transtorno estava presente, em quase totalidade, na vida de mulheres, geralmente na adolescência ou início da fase adulta; hoje temos um número cada vez maior de crianças e adultos de ambos os sexos desenvolvendo problemas com a alimentação. Esse comportamento inadequado provém geralmente de uma disfunção emocional e, não preciso repetir o quão pressionados somos hoje em dia por uma perfeição inatingível, uma postura exemplar e bem sucedida, o que acaba explodindo de alguma forma.
Quando se fala de transtorno alimentar, logo vem à mente anorexia x bulimia. A anorexia é uma preocupação excessiva e uma obsessão extrema pela eliminação de massa. Geralmente os anoréxicos combinam gastos calóricos absurdos através de atividades físicas e ingerem cada vez menos alimentos; por mais magros que estejam, não conseguem se ver assim e continuam buscando emagrecer cada vez mais, não sendo raro a combinação de laxantes e diuréticos para eliminar qualquer resíduo que o corpo produza. O resultado disso é a desidratação, desnutrição e morte. Karen Carpenter, vocalista do grupo The Carpenters, foi vítima fatal da anorexia em 1983 e tantos outros anônimos morrem a cada dia da mesma forma porque não têm conhecimento, apoio e ajuda de profissionais e familiares.
Na bulimia, temos um comportamento semelhante na obsessão pela perda de peso, porém é uma resposta à uma ação: aqui se processa o Transtorno obsessivo-compulsivo onde o indivíduo tem um comportamento compulsivo diante da comida, ingerindo uma quantidade além do convencional e após reconhecer o “desvio”, tenta corrigir ao seu modo, forçando vômito em 90% dos casos ou fazendo uso de laxantes, cafeína, cocaína e/ou dietas excessivamente restritivas.
Um indivíduo pode desenvolver um transtorno alimentar ainda enquanto bebê. Foi o que aconteceu comigo, por exemplo. Mas, teria um bebê razões de estresse ou grandes disfunções emocionais a ponto de desenvolver um transtorno dessa magnitude? Bom, precisamos entender que os acontecimentos do meio para o interior, são, na maioria dos casos, os principais responsáveis, mas não são os únicos. A genética, sempre ela, também atua nesta questão. Uma mãe com comportamentos compulsivos, tender a ter filhos compulsivos; diabetes gestacional também influencia essa disfunção.
Minha experiência: o início
Minha mãe conta que desde bebê, eu sofria de disfunção alimentar. Eu chorava por comida, comia, chorava mais, comia mais e assim eu ia até regurgitar, pois não cabia mais nada em meu estômago, mesmo assim eu comia e comia e comia… Então eu fui crescendo (e comendo) e sempre tive tendência a engordar. Fui uma criança gordinha e entrei na adolescência sofrendo bullying (que há 15 anos não se falava). Nunca gostei de esportes coletivos e para completar, sempre tive o humor depressivo, uma sensibilidade à flor da pele e constantes variações de humor. Mas eu dançava! E dos 15 aos 18 anos, estava no auge de fazer tudo o que eu mais gostava: eu dançava, fazia teatro, estudava música, dirigia grupos artísticos em Caruaru e pesava 56kg em 1,62m. Então, sem me ater aos fatos, eu comecei a engordar e foi um efeito cascata de modo que a expressão montou-se da seguinte forma: a depressão disparou o gatilho da compulsão e eu comia compulsivamente, engordava rapidamente, tinha mais depressão e parava com as atividades que me davam prazer e cada vez mais só encontrava prazer na comida, muita comida que terminava com o vômito por excesso. 56, 60, 70, 80, 90, 100… 105kg! Todo esse peso e eu me sentindo muito mal; autoestima já não existia e prazer mesmo, só em comer; fisicamente, já sentia o peso (literalmente) de minha forma física e meus joelhos doíam, não conseguia mais pisar firme no chão, pois meu calcanhar doía, costas doíam… Era como se eu já não suportasse meu próprio corpo. Alguns problemas como intolerância à glicose (início de diabetes tipo 2), esteatose hepática acentuadíssima (gordura no fígado), colesterol gritando alto, paradas respiratórias durante o sono, ronco, sudorese em excesso, preconceito, tristeza constante e raiva de mim mesma acompanhavam minha vida. A comida dava prazer, mas ao mesmo tempo servia de autopunição e eu sei que muitos enfrentam problemas semelhantes.
As dietas que tentei neste período e como consegui pôr fim à obesidade irei detalhar nas próximas matérias.

Saiba mais:
Além da bulimia, anorexia e transtorno compulsivo por alimentos, existe uma série de outros distúrbios alimentares além de mais 1/3 de disfunções não identificadas. As que conhecemos hoje são :

Hipergafia – aumento do consumo de alimentos em decorrência de um trauma.
Ortorexia – comum em países desenvolvidos, consiste na obsessão por alimentos saudáveis, excluindo outros indispensáveis.
Pica – comum em grávidas e crianças que obedecem ao impulso de comer o que dá vontade, independente dos seus danos.
Sindrome de Prader-Willi – distúrbio genético e incurável ligado à necessidade involuntária de comer constantemente. Alguns antidepressivos têm reduzido os efeitos dos danos.
Transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) – compulsão por comer característica da bulimia, porém sem o uso de métodos extremos de perda de peso. Afeta cerca de 30% dos obesos.
Transtorno de ruminação - frequente em crianças pequenas, caracteriza-se pela regurgitação ou remastigação repetida que não podem ser explicados por nenhuma condição médica.
Vigorexia - obsessão por um corpo musculoso e atraente, quase sempre em homens. Envolve um treinamento muscular obsessivo e alimentação voltada para a manutenção desse corpo com uso frequente de anabolizantes.

Dicas:
Cuide-se hoje porque prevenir sempre foi mais simples que tratar. Se você sofre de algum distúrbio e não consegue lutar sozinho, saiba que o acompanhamento para tratar de disfunções alimentares é multidisciplinar e envolve médico, nutricionista e psicólogo. Eu estou disposta a conversar com você e tirar suas dúvidas ou dar uma orientação, baseada em minhas experiências, sobre o melhor caminho a ser seguido. Felizmente hoje, problemas como estes estão sendo mais valorizados e muitos profissionais estão buscando especializar-se no apoio a pessoas que sofrem destes transtornos. No mais, lembre-se que tudo precisa ser dosado, pois até mesmo a perseguição por hábitos de vida saudáveis, podem se tornar doentios. O equilíbrio entre o que dá prazer e o que é saudável sempre será a melhor alternativa.

Disponível em: Jornal Caruaru

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