terça-feira, 20 de junho de 2017

DIÁRIO DOS MEUS DIAS ATÍPICOS - O assaltante e a cerveja

Não importa o dia, não importa o momento. Seja qual for o tipo, todo dia é um dia atípico em uma cidade como São Paulo. Após ouvir essa frase quase que diariamente, seja diante de um engarrafamento em uma via que tipicamente não congestiona, ou de enfrentar um temporal quase dilúvio em um dia cuja previsão era sol, decidi registrar alguns episódios.

Justo no dia em que tomo essa decisão, acontece o fato mais atípico que já me ocorreu em São Paulo: um assaltante desiste de me assaltar e ainda me presenteia.

Aqui em São Paulo já me aconteceu diversas coisas. Certa vez eu estava na USP e a grana do táxi me levava apenas ao Butantã. Mas o taxista era nordestino e gostou tanto de conversar comigo que me levou à Consolação por apenas 10,00! Ele me falou da esposa, dos filhos e netos, da vida dele em São Paulo e da saudade dos que ficaram no Ceará. 

Mas o que aconteceu no dia 19 de junho de 2017 certamente superou todas as experiências.
Estava eu saindo do Center Norte e fui alertada por uma mulher que não deveria ir sozinha caminhando à estação de metrô naquela hora. Mais prudente seria tomar alguma condução. Tentei seguir o conselho, mas por engano ou coincidência a saída que peguei me deixava muito próxima ao metrô e decidi ir caminhando mesmo.

Quando estava para atravessar a avenida, dois caras se aproximam. Um deles me aborda:

- Moça, tem isqueiro?
- Não fumo, moço.
- E tem o que pra ‘nóis’?

Por alguns segundos meu coração não batia. Eu não tinha grana, mas levava em meu corpo todo o meu patrimônio: um notebook e um celular. Sem pensar muito nisso e na situação em si, olhei pro outro cara que estava apenas parado e vi que ele levava um PAC com latas de cerveja. De forma muito espontânea eu olhei pro rapaz que falava comigo, abri um sorriso de canto a canto e disse:

- Moço, eu não tenho isqueiro, mas se eu tivesse eu lhe dava em troca de uma latinha dessas!

O cara me encarou por algum tempo e falou para o amigo:
- Dá uma latinha pra moça!
- Ah, não precisa, eu tava brincando. (Falei)
- Precisa sim, moça. Você me encantou agora com esse sorriso.
- Eita! Obrigada.
- Você é linda moça. E sorriu pra mim. (falando enquanto pegava a cerveja) Quando a gente fala com as pessoas
, olham com cara feia, mas você sorriu.
- Ah, a vida já é tão estressante, né? Por que ser antipática?
- Um sorriso lindo desse.
- Obrigada.
- Você é linda, viu? Com todo respeito.
- Muito obrigada, você é muito gentil. Vou nessa. Tchau!
- Tchau.

E então eu saí correndo fingindo ter encontrado um conhecido.

A cerveja estava gelada. Abri e tomei ainda na fila da bilheteria do metrô. A cena não me saiu mais da memória. 

Foi um dia atípico em São Paulo.

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