"Elevo os meus olhos para os montes; de onde me vem o socorro?"
Saudade mesmo eu sinto do tempo em que eu podia acreditar na resposta que seguia a pergunta acima iniciando o salmo 121 da Bíblia.
Certa vez Rick Warren, escritor cristão, disse que nunca saberemos que Deus é tudo o que precisamos, até que Deus seja tudo o que tivermos. Essa frase soa muito bem a quem tem dentro de si, em algum lugar, um lugar para Deus.
Dostoiévski dizia que há dentro do homem um vazio do tamanho de Deus. E a todos que se abandonaram tão longe e que de tão vazios chegam ausentar-se de si mesmos, cabe o pensamento de que não existe vazio maior que aquele deixado em quem se abandona de Deus.
A maior contradição a que pode chegar um ateu ou agnóstico é fazer uma oração porque oração requer fé. Quem ora o faz com fé, rogando por algo que espera que Deus cumpra.
"Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até se a este monte disserdes: Ergue-te, e precipita-te no mar, assim será feito..." (Mateus 21.21)
Mas ainda assim você ora. Pede, implora e roga não para que os montes se transportem, mas para ter um pouco de fé. Nesse momento é tarde, porque Deus já fez as malas quando você o expulsou e foi cuidar dos que são DEle. Tudo o que você pode ouvir é o eco de seu grito. Não há ninguém dentro de você além de você mesmo e você é tão pequeno, tão frágil, tão falho, tão dependente.
Dentro do hiato você começa a apelar pra caridade de quem você de alguma forma feriu, mas guarda dentro de si muito de Deus. Você rasteja e se humilha a outro ser tão pequeno, frágil, falho e dependente quanto você e que agora pode te olhar e dizer: tenho pena de você.
No vazio perdido em si mesmo, sem fé, sem Deus e sujeito ao sentimento de pena do outro, você ultrapassa as barreiras limítrofes do desespero. Você eleva seus olhos para o monte, mas não vê nenhum socorro.
Mais uma vez há vários caminhos. Não é apenas uma bifurcação. É labirinto. Você escolhe o que mais prazeroso lhe parece até quebrar-se novamente em mil pedaços e perder-se de novo até o dia em que ninguém mais vai achar e suas forças serão insuficientes para se refazer.
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